A história das Cerejeiras



Seu Nelson: o começo de tudo

A história das cerejeiras em Garça começou a ser escrita em 1979, quando Nelson Koshe Ichisato, trouxe as primeiras mudas de cerejeiras para o município. Nelson, que ficou conhecido como o Pai das Cerejeiras, nasceu em Oshima, Yamagu-tiken, no Japão e sempre contou que desde pequeno gosta de flores, e que em abril, primavera e época da florada no país do sol nascente, as famílias se reuniam com convidados especiais para um piquenique em comemoração a nova estação.
Para matar as saudades do país de origem, durante anos ele visitou a florada das cerejeiras em Campos do Jordão. O encantamento foi tanto que decidiu trazer as mudas para cidade onde até hoje mora: Garça. No começo poucos acreditaram que o plantio de mudas no bosque desse certo. Cento e dez mudas foram plantadas em uma só vez e para sua tristeza, após o plantio choveu muito na região e várias mudas morreram.
Mas, ele não desistiu. No ano seguinte, novas mudas foram plantadas. De lá para cá elas se tornaram responsáveis pelo mais belo parque de cores, que todo ano floresce encantando turistas de todo o Estado, que visitam a cidade apenas para admirar as cerejeiras.
No Japão a florada das cerejeiras é apreciada dentro de um espírito de confraternização e preservação, onde as pessoas observam a beleza das flores. Nas sombras das árvores elas se reúnem para conversar, se relacionar. É este espírito da festa japonesa, embasado no pensamento de uma reunião, onde as pessoas devem parar e conversar com as outras, que tem mobilizado o trabalho voluntário de toda comissão organizadora.
Para a colônia japonesa, a cerejeira (sakura) lembra as histórias dos antigos samurais. Guerreiros decididos a morrer pelos seus mestres em qualquer circunstância, os samurais estavam preparados espiritualmente para viver poucos anos, assim como as flores imponentes das cerejeiras que nascem pela manhã e morrem no final da tarde.
A cerejeira é uma árvore da família das rosáceas com cerca de 600 variedades. Para os japoneses é como o Monte Fuji, um símbolo da Pátria Mãe e têm a florada tão bela que serve como ornamentação. A espécie japonesa mais cultivada no Brasil é a Serrula Tamque que começa sua floração em fins de março no sul do país e no começo de julho no norte do país. Também é considerada pelo povo japonês como a flor que simboliza um estado de espírito. Após rigoroso inverno, onde as pessoas buscam ambientes fechados para se proteger do frio, vem a primavera e com ela a cerejeira em flor, que representa alegria e beleza.
As flores ficam uniformes na árvore de um a dois dias no máximo, quando atinge seu pico. Já no terceiro ou quarto dia, as flores se desprendem totalmente o que segundo a cultura japonesa, representa a regeneração do espírito, uma demonstração da coragem de mudar para um outro estágio de vida na busca de um futuro melhor.


Cerejeiras: o brilho rosa do Sol Nascente na terra do café

Na terra do café, que impregna o ar com o perfume de suas flores brancas, o brilho rosa das flores das Cerejeiras mostra um pouco da beleza contida no País do Sol Nascente. O plantio das mudas feito por Nelson Ischisato foi mais que a realização de um sonho ou o “matar” de saudades, e de repente uma nova tradição se formou: a Festa da Cerejeira na Sentinela do Planalto.
Em meio a uma heterogeneidade de raças, credos, gostos e cores, é possível contemplar pedaços da cultura nipônica, tão cheia de significados, tão marcada pela resistência. Os flashs buscam perpetuar as flores tão perenes, e cada espaço passa a ser disputado para o melhor ângulo.
Garça e região se rendem aos encantos da flor de cerejeira (sakura), e a festa é um acontecimento anual aguardado por todos. A floração das cerejeiras marca, no Japão, o final do inverno e simboliza a fragilidade da existência humana. O amor pelas cerejeiras no país é enraizado na sua antiga história, pois desde os tempos dos samurais, esses guerreiros apreciavam a frugalidade e beleza dessas flores, que identificavam como uma alegoria de sua própria existência. Os próprios kamikazes, pilotos suicidas japoneses da Segunda Guerra Mundial, levavam uma flor desta árvore antes de se atirarem com seus aviões em um ataque mortal contra os barcos inimigos. Hoje em dia, costume se resume em encontros familiares, de amigos e colegas de trabalho na sombra das cerejeiras. Que em Garça, o toque dos tambores, os sabores ímpares da culinária japonesa, a magia da dança nipônica sejam detalhes desta festa onde as cerejeiras são as estrelas principais.
E que o espírito de confraternização, embutido na sakura, faça parte deste enredo onde a miscigenação só deu um colorido a mais.